Desirée, codinome Júlia

Me questionei várias vezes, pensando se devia ou não partilhar com vcs mas um momento histórico da minha vida: a época em que eu fui outra pessoa.
Sim já fui outra pessoa com nome falso e tudo. Era uma época em que não existia vestibular, era uma época em que eu só pensava em beijar, era uma época em que eu já era era esperta demais pra minha idade,era uma época em que eu realmente não tinha o que fazer, mas foi sem dúvida a melhor época da minha vida, a mais marcante, a mais aventurada.

Eu tinha 13 anos, quase completando 14, já tinha passado acreditem ou não por muita coisa e eu estava em um momento despirocação total (traduzindo = eu era depravada mesmo), tinha acabado de mudar para um apartamento maior do que eu estava acostumada a viver com minha mãe, e nesse belo dia de feriado de finados eu me transformei em Júlia quando no mesmo dia me apresentei a galera que morava ali, primeiro conheci os meninos (tinha que ser neh), todos em um dia só, depois as meninas que no começo sentiam muito ciumes de mim, imagina só, uma garota mais velha, mais cabeça e carne nova no pedaço pro meninos, eu tb sentiria raiva de mim mesma. Junta isso tudo associado a primeira semana de convivência em que eu derrubei um menino (o it boy da rua) da moto e quebrei a moto dele e fudi o corpo do cara todo, agora acrescenta um "assassina" que ri compulsivamente quando está nervosa e põe mais um "esquizofrênica" nesse bolo, dá oq? uma vadia-forasteira-assassina e esquizofrênica.
(Mas ainda bem que Deus me deu o dom da expressão (vcs n tem noção do qunto isso me tirou de enrascadas) e desse dom passei de vadia forasteira à garota novata e doidona da rua.
Ninguem sabia meu nome, eu e uma ex (puta-safada)amiga trocamos de identidade na brincadeira, ela virou Sabrina e eu Júlia ... Imagina o que é pra uma pessoa ouvir um nome diferente do que vc estava habituada a ouvir por quase 14 anos e agir quase se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Júlia pra cá , Júlia pra lá.. Claro que eu fui descoberta neah, depois de passar algumas semanas, as minhas mais-novas-amighas-de-infância forma na minha casa me chamar, eu não estava, minha mãe abre a porta e elas perguntam : Júlia taí?! (eu sei ki vcs estão imaginando as cenas a seguir), minha mãe com esse jeito meigo e absoluto (ironia) dela diz: oush aqui num mora nenhuma Júlia naum viu.
É acho que fui descoberta.

Imagina agora vcs a imagem de uma vadia-forasteira-assassina-esquizofrênica e mentirosa (cacete, as meninas deviam me odiar mesmo) junta tudo em uma pessoa e dá oq? Desirée a farsante, eh claro.
Ainda bem que minhas mais-novas-amighas-de-infância são boazinhas e não contaram nada pros meninos, que passaram longos anos sem saberem de nada (acho que uns nem sabem direito ainda).

Acho que todo mundo precisa de uma pseudo vida, eu tive um pseudo nome, que me deu uma pseudo vida, com pseudo ilusões, mas me trouxeram amizades e recordações muito verdadeiras se que saber. E quase 7 anos depois vc lembrar disso e ver quanto foi importante pro seu desenvolvimento psicológico, cara, eu fui quem eu quis ser, é como quem sempre troca de cidade e sabe que nunca mais vai voltar lá e inventa vários personagens pra viver.

Júlia era minha outra metade, tudo o que eu tinha vontade de ser e de fazer, ela fazia, ela era, Júlia era mais descontraída, mais “nem aí pro mundo”, mais “falem de mim bem ou mal, mas falem”, ela era meu lado negro, e o meu mais divertido, ela era meu lado sagitariana de ser, meu lado aventureiro. Desirée tentava ser ela, era mais desconfiada, observadora, determinada. Hoje eu juntei isso que eu não conseguia ter ao mesmo tempo, sou tudo isso sem ser um personagem, pq hj eu sei que melhor que ser uma loucura temporaria e ser o que vc QUISER SER sempre.

Saudades daquela velha tão nova Júlia. Saudades daquele tempo.

Uma Beija,
DZR

p.s.: legenda da foto: Eu na esquerda com chiclete (ja era desbocada de nova), Lays de peruca verde, e Betinha da direita de peruca rosa , só faltou Marisa que por sinal, era a dona da festa.